Menção Honrosa – PFMP (Edição 2014)

Menção Honrosa – PFMP (Edição 2014)

Menção Honrosa – PFMP (Edição 2014)

O pacto das elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique

PRÉMIO FERNÃO MENDES PINTO

A Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) é uma ONG internacional que promove a cooperação e troca de informação entre instituições de ensino superior dos oito países de língua oficial portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor – e da
Região Administração Especial de Macau (RAEM).

Desde 2008 que a AULP atribui anualmente um prémio denominado “Fernão Mendes Pinto” que galardoa uma dissertação de mestrado ou doutoramento que contribua para a aproximação das comunidades de língua portuguesa. No valor de oito mil euros, é uma parceria conjunta entre a AULP e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e ao autor é oferecida a possibilidade de publicação da sua dissertação pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que tem por missão propor e executar a política de cooperação portuguesa, assim como divulgar a língua e a cultura portuguesa no mundo.

Dada a excelência da qualidade dos trabalhos enviados nesta edição, o Conselho de Administração da AULP decidiu atribuir duas menções honrosas. Sueli da Silva Saraiva, da Universidade de São Paulo, com a dissertação de doutoramento do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua
Portuguesa, “O pacto das elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique” e Ivete Sandra Alberto Maquia, da Universidade Eduardo Mondlane, com a dissertação de mestrado na área da biotecnologia, “Caracterização Molecular de Recursos Genéticos Florestais das Matas de Miombo na Reserva Nacional de Niassa: Desenvolvimento de Marcadores inter simple sequence repeats (issr) e de Código de Barras”.

PREFÁCIO

Cinquenta anos depois que vestígios, marcas e resquícios subsistem dessa experiência de sublevação, da paixão que a inflamou, dessa tentativa de passagem do estado de coisa ao estado de sujeito, da vontade de retomar a “questão do homem”?

Formulada por Achille Mbembe, a indagação pode ser lida como uma síntese da perplexidade que permanece cercando o devastado continente. Sob perspectivas diversas, a pergunta é reiterada por cidadãos africanos e pesquisadores de vários cantos do mundo tocados pela contraposição entre a atmosfera das décadas de 1950 e 1960 e os nossos dias. Diante da complexidade das crises que têm convulsionado os diversos países, os olhares passeiam por situações nas quais se cruzam espaços e temporalidades várias, captando movimentos que ao projetar o presente não deixam de colocar em cena o passado e de discutir uma ideia de futuro que insiste em sobreviver.

Essa sadia perturbação esteve sempre no horizonte das literaturas produzidas em Angola e Moçambique. Dimensionando e redimensionando o grau de insatisfação que impulsionou os intelectuais na luta contra a dominação colonial, os escritores procuraram tornar matéria o que em estado de potência inscrevia-se na vida das pessoas imprensadas entre um cotidiano massacrante e a esperança de transformação.

Nessa fase, predominavam como agentes da denúncia e das mudanças os deserdados da injusta ordem. Assim, os poemas e 12 narrativas buscavam nos ambientes periféricos os personagens que evidenciavam a exclusão colonial. Mudando-se os tempos, mudam-se as vontades? Talvez, em certa medida, em algumas circunstâncias.

Todavia a realidade contemporânea revela que sob os céus de Angola e Moçambique, a independência não promoveu a radical metamorfose que a literatura embalava. Derrota da arte e da escrita? Certamente não, porque em sua lealdade a alguns princípios, a prática literária mantem no pós-independência o apego à visão crítica e insiste em propor-se como um instrumento desvelador das armadilhas do presente. Com a sensibilidade de uma grande leitora, Sueli Saraiva traz para O pacto das elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique uma argúcia analítica capaz de detectar em O último vôo do flamingo, O sétimo
juramento, Predadores e Maio, mês de Maria graves sinais da deterioração dos sonhos. Em obras emblemáticas da contemporaneidade, ela surpreende redes de sombras que impediram a aurora a que artistas, guerrilheiros, militantes e gente comum devotaram sua crença e muito mais. Isso explica que a procura da lógica da dominação e as suas estratégias tenha como alvo seja novos representantes da opressão. Ou seja, é sobre as elites em seu funcionamento estrutural e conjuntural que recai o foco de sua atenção, recusando atitudes indulgentes tantas vezes reservadas aos africanos. Engana-se, todavia quem espera do trabalho a indicação de grandes vilões e/ou de argumentos na linha do moralismo. Antes, sua argumentação reforça-se na leitura que entende os dois países e a história do continente no grande concerto do mundo.

No diálogo com Boaventura Cardoso, Mia Couto, Paulina Chiziane e Pepetela, a estudiosa recorre ao comparatismo literário como método para examinar os enredos com os olhos postos na organização formal que os novos (?) contextos engendram. E, assim, elege um signo da literatura entendida como ocidental para discutir
o velho e sempre renovado pacto em que se fundamenta o modo de ver e estar no mundo das elites. Trata-se do mito fáustico, aqui constituído também como base para a intertextualidade entre as obras escolhidas. A partir do delineamento dessa presença, trabalha 13 a conexão dessas narrativas com outros sistemas de referência, retirando os universos literários de Angola e Moçambique dos guetos em que, não raro, são colocados.

Essas são apenas alguns dos terrenos a que, em redação clara e elegante, a leitura fina de Sueli Saraiva nos leva. Acompanhar sua travessia abre-nos a possibilidade de avançar sobre passos importantes da história dos países e verticalizar o debate acerca da expansão ocidental e os desdobramentos da expansão colonial. Sob sua condução, podemos ainda apreender modos e formas de representação da literatura, aproximando-nos da “crítica integradora”, que segundo
Antonio Candido, um dos mestres com quem a autora aprendeu, é “capaz de mostrar (não apenas enunciar teoricamente, como é hábito) de que maneira a narrativa se constitui a partir de materiais não literários, manipulados a fim de se ornarem aspectos de uma organização estética regida pelas suas próprias leis, não as da natureza, da sociedade ou do ser”.

Profa. Dra. Rita Chaves
(Universidade de São Paulo – USP)
Disponibilidade: Disponível

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2013)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2013)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2013)

O vencedor do Prémio Fernão Mendes Pinto 2013 é Odair Bartolomeu Barros Lopes Varela, com a tese “Mestiçagem Jurídica? O Estado e a Participação Local na Justiça em Cabo Verde: uma análise pós-colonial”, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

A análise pós-colonial do papel do Estado cabo-verdiano no que tange à participação local na justiça implicou, mediante a utilização de ferramentas epistemológicas conferidas pelos Estudos Pós-coloniais, uma contextualização sócio-histórica crítica da especificidade do Estado moderno nesse país a partir da intercessão colonial portuguesa visando expor as continuidades ou presenças, as rupturas, (des)continuidades ou transformações das características político-jurídicas coloniais no período após a independência. Para além do aprofundamento do carácter inter-transdisciplinar e transdisciplinar da pesquisa – o que permitiu a navegação, de forma enriquecedora, por campos disciplinares como os de Ciência Política, Relações Internacionais, História, Antropologia ou Estudos Literários –, a feição in-disciplinar do campo dos Estudos Póscoloniais faculta, por outro lado, pôr em causa a própria configuração disciplinar eurocêntrica e colonial presente na Ciência Moderna a qual, evidentemente, nem esse campo consegue escapar dado que, por exemplo, o seu actual paradigma epistemológico não reconhece, ou deixa praticamente de fora, o potencial de contribuição e enriquecimento que os saberes ou conhecimentos produzidos no Sul Global podem trazer para o seu «cânone».

A tese “Mestiçagem Jurídica? O Estado e a Participação Local na Justiça em Cabo Verde: uma análise pós-colonial”, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, foi publicada pelo Camões I.P., conforme regulamento.

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2012)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2012)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2012)

O vencedor do Prémio Fernão Mendes Pinto 2012 foi Pedro Manuel Rodrigues da Silva Madeira Góis, com a tese “A Construção secular de uma identidade étnica transnacional: a cabo-verdianidade”, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Procuramos demonstrar que a “identidade étnica transnacional cabo-verdiana” vem sendo construída continuamente ao longo dos últimos séculos enquanto fenómeno social e sociológico. Existe não porque exista (apenas) uma crença que supõe a sua existência mas por que há acções, interacções e relações sociais que, analisadas longitudinalmente, comprovam a sua existência. Referimos exemplos diversos desta actividade nos EUA, em Portugal, em Cabo Verde ou na Argentina. Defendemos que não existe [não poderia nunca existir] uma (única) identidade étnica cabo-verdiana geral, mas que, ao contrário, estamos em presença de uma (re)construção étnica múltipla e, portanto diferente em cada um dos países onde existem comunidades imigradas (e no arquipélago de Cabo Verde), resultante, por um lado, do confronto com os “outros” diferenciadores e, numa outra vertente, dos contextos e conjunturas em que ocorre essa interacção. Concluímos defendendo que a “etnicidade” é contextual e que através do exemplo cabo-verdiano ela é um dos alicerces das modernas formas de “identidade étnica transnacional”.

A tese “A Construção secular de uma identidade étnica transnacional: a cabo-verdianidade”, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, foi publicada pelo Camões I.P., conforme regulamento. 

Disponibilidade:

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2011)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2011)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2011)

A tese de doutoramento “A construção da comunidade lusófona  a partir do antigo centro. Micro-comunidades e práticas da lusofonia”, de Cármen Maciel, vencedora da 4ª edição do Prémio Fernão Mendes Pinto, foi editada pelo Camões, IP.

O presente trabalho tem por objectivo discutir a construção da comunidade lusófona a partir do antigo centro português. Escrutinando os rumos da história desde o século XV até à actualidade pós-colonial da sociedade portuguesa, pretende-se traçar o enquadramento histórico que terá estado na base de concepção e idealização de tal comunidade.

Pretende-se ainda acompanhar as dinâmicas simbólicas, mas também políticas, institucionais e culturais do projecto de comunidade que, a 17 de Julho de 1996, adquire um rosto formal através da constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Em simultâneo com a análise das iniciativas realizadas ‘de cima para baixo’, presta-se particular atenção à actuação dos agentes ao nível micro, focalizando a atenção na exploração das práticas da lusofonia que se dão sobretudo na esfera cultural.

Defende-se, neste trabalho, que comunidade lusófona é um colectivo em formação e que, apesar da forte conotação ideológica, que a situa ao nível do resgate de um passado agora reinventado à luz do ‘encontro de culturas’, esta é uma realidade prática que vemos funcionar em expressões diversas, quer em iniciativas informais, quer em transacções comerciais ou em actividades socioculturais – para além das acções político-institucionais.

O Prémio Fernão Mendes Pinto compreende um valor pecuniário atribuído numa parceria conjunta entre a AULP e a Comunidade de Países Língua Portuguesa (CPLP), bem como a edição da tese, a realizar pelo Camões, IP.

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2010)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2010)

Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2010)

A vencedora do Prémio fernãp Mendes Pinto 2010 foi Gisella de Amorim Serrano com a tese Caravelas de Papel: a Política Editorial do Acordo Cultural de 1941 e o Pan-Lusitanismo (1941-1949)”, de Belo Horizonte, da Universidade Federal de Minas Gerais.

“No ano de 1941, o Departamento de Imprensa e Propaganda do Brasil e o Secretariado de Propaganda Nacional de Portugal assinaram, no estado do Rio de janeiro, um Acordo Cultural. Esse Acordo constitui um dos desdobramentos da “Política do Atlântico”, organizada no interior da estratégia de propaganda e afirmação nacional do governo de Salazar, isto é, a partir de uma concepção política “panlusitanista”. Sob o imperativo do Acordo Cultural, foram planejadas e publicadas Revistas, livros e coleções. Esses impressos deram visibilidade ao projeto político luso-brasileiro firmado por essa ocasião. Neles, contam-se a participação de vários artistas e intelectuais tanto portugueses quanto brasileiros. Neste trabalho, procuramos compreender essa política editorial sob os mais diversos aspectos. Nosso interesse é revelar, por meio desses impressos, parte da dinâmica da relação Brasil-Portugal nos anos de 1940. Propomos, portanto, a análise de um importante recurso de divulgação e difusão do ideário panlusitanista que, ao fim e ao cabo, acabou por estabelecer bases significativas da aproximação entre os dois governos e entre os dois países”.

A tese de doutoramento “Caravelas de Papel: a Política Editorial do Acordo Cultural de 1941 e o Pan-Lusitanismo (1941-1949)”, de Belo Horizonte, da Universidade Federal de Minas Gerais, de Gisella de Amorim Serrano, vencedora da 3ª edição do Prémio Fernão Mendes Pinto, foi editada pelo Camões, IP.