Subordinado ao tema “Línguas, Identidade e Inclusão Social num Mundo Globalizado” o Encontro contou com três mesas-redondas: “Multilinguismo e Diálogo Intercultural”, “Línguas, Cultura e Desenvolvimento” e “Línguas, Conhecimento e Inclusão Social”.
No passado dia 19 de novembro a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) acolheu o “Encontro dos Três Espaços Linguísticos” na sede da instituição, em Lisboa, para refletirem sobre o tema “Línguas, Identidade e Inclusão Social num Mundo Globalizado”. O Encontro realizado em parceira com a Organização Internacional da Francofonia (OIF) e a Secretaria Geral Ibero-americana, contou com a presença da Secretária Geral Adjunta Ibero-Americana, Mariangela Rebuá, do Reitor da Agência Universitária da Francofonia (AUF), Bernard Cerquiglini, do Secretário Geral da Organização Ibero-Americana para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), Paulo Speller, da Diretora Executiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Marisa Mendonça, e do Assessor Especial do Presidente da República de Timor-Leste, Roque Rodrigues (Presidência pro tempore da CPLP).
A mesa-redonda “Multilinguismo e Diálogo Intercultural” obteve a mediação do Embaixador Lauro Moreira e a intervenção da Professora Edleise Mendes da Universidade Federal da Bahia, do Professor Alexandre Wolf responsável pelo desenvolvimento da Língua Francesa da OIF e da Professora Sónia Izquierdo, chefe de estudos do Instituto Cervantes de Lisboa.
Em cima da mesa estiveram temas como a promoção do multilinguismo e do plurilinguismo, que segundo a Professora Sónia Izquierdo fomenta as relações internacionais e constitui um fator importante na sua democratização, uma vez que têm de ser baseadas no diálogo intercultural. Por outro lado, a Professora destacou a intensificação dos fluxos migratórios, das trocas comerciais e de uma comunicação de espectro global, onde o plurilinguismo constitui um dos grandes desafios das sociedades multiculturais contemporâneas.
Na mesa-redonda “Línguas, Cultura e Desenvolvimento” participaram a Professora Ana Paula Laborinho, Presidente do Instituto Camões, o Professor Ousseynou Wade perito da OIF e o Professor Enrique Vargas, coordenador do espaço cultural Ibero-Americano. A Professora Ana Laborinho considerou relevante relembrar que o prazo de concretização dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio (ODM), que foram criados em 2000, terminou. A oradora, apesar de admitir que muitos dos objetivos ficaram aquém das expectativas, reconheceu a sua importância porque, pela primeira vez, foi possível medir o desenvolvimento dos países através dos resultados que conseguiram obter. Dos 8 objetivos dos ODM, salientou o de alcançar a educação primária universal, onde houve significativos progressos a nível global como por exemplo o aumento dos indicadores no ensino primário – em 2000 havia 100 milhões de crianças que não frequentavam o ensino primário e em 2015 passaram para 57 milhões. Destacou ainda a redução do analfabetismo e uma maior equidade entre meninas e meninos no acesso ensino primário, diminuindo assim a diferença registada em 2000.
“A verdade é que chegamos a 2015 com mais objetivos e desafios por atingir”, realçou a Professora, destacando que a Agenda2030 é ambiciosa, visto que engloba 17 objetivos em detrimento dos 8 anteriores. Contudo, a oradora acredita que estes objetivos mais transversais têm virtualidades importantíssimas, em que a Agenda2030 mostra ser universal, onde não existe a diferença entre o Sul e o Norte, ou entre Ricos e Pobres. “Os objetivos têm de ser atingidos por todos”,
afirma.
Ana Laborinho salientou também que o impacto das línguas é forte e traz poder, pois são elementos fundamentais para a definição e prossecução de estratégias de desenvolvimento.
“Não chega dizer que somos muitos, já não chega dizer que somos a 3ª língua mais falada no Facebook e na internet”, destacou a professora Ana Laborinho, afirmando ainda que é necessário mais universidades de língua portuguesa bem cotadas nos rankings internacionais, bem como destacarem-se nas investigações internacionais em língua portuguesa. “Já não basta ensinar Português. É necessário ensinar em Português!”, terminou.
Na mesa-redonda “Línguas, conhecimento e inclusão social”, estiveram presentes a Professora Marisa Mendonça, Diretora Executiva do IILP, com o Professor Jean-Marie Klinkenberg, membro da Academia Real da Bélgica, e por fim o Professor Juan Carlos Jimenez, catedrático na Universidade de Alcalá, Espanha.
A Professora Marisa Mendonça conduziu a sua comunicação tendo como referência a crise dos refugiados, levantando questões como “de onde vêm? Quem são? Para onde vão? E como inclui-los?”. Fazendo um paralelismo entre a mobilidade estudantil, em que facilmente consegue-se corresponder às expetativas, e os refugiados, serão os países capazes de responder às exigências impostas? Deixou a questão.
Segundo a oradora, para existir inclusão social, a língua e o conhecimento são elementos fundamentais. O próprio termo “língua estrangeira” já cria uma barreira entre o “eu” e o “outro”. A Professora questiona-se: “alterar a forma como se designa as palavras pode causar mudanças comportamentais?”
Em conclusão, a Professora Marisa Mendonça considerou que as instituições internacionais são chamadas a desenvolver parcerias/redes eficazes na busca de soluções globais para os complexos desafios do mundo interdependente em todos os níveis de atuação seja internacional, regional, sub-regional ou local. “Nós vivemos em redes e essa é a principal riqueza que temos de apreender e tentar tirar o maior proveito dela”. A oradora dá como exemplo o facto de vários alunos PALOP que estudam no Brasil falarem 3 a 5 línguas.
O Professor Aurélio Guterres, Reitor da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (UNTL), interveio neste encontro para relembrar que em Timor usa-se o português como língua de ensino, dando ainda a conhecer o projeto timorense Escolas de Referência, onde vários professores portugueses foram lecionar para Timor.
Reconhecendo a responsabilidade de convergir esforços para a promoção do conhecimento mútuo e do diálogo intercultural, da implementação de uma cultura de paz e de entendimento civilizacional, assente no respeito pelos direitos humanos, ficou assente neste encontro que a lusofonia é um espírito desenvolvido ao longo de 500 anos de convívio, como referiu o Embaixador Lauro Moreira.
Conclusões do Encontro
Na sessão de encerramento o Secretário Executivo da CPLP, Murade Isaac Miguigy Murargy, a Secretária Geral Adjunta Ibero-Americana, Mariangela Rebuá, e a Secretária Geral da Francofonia, Michäelle Jean, representada pelo Reitor da AUF, Bernard Cerquiglini, destacaram vários pontos que resultaram desta conferência:
1. Entendem que o respeito pela diversidade cultural e linguística é uma condição importante para a promoção da paz e do desenvolvimento sustentável e uma premissa para a ação conjunta dos TEL, no âmbito da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais;
2. Reiteram o compromisso com o diálogo político dos TEL, em especial nos temas que concernem a promoção do multilinguismo nas organizações internacionais, do plurilinguismo e da intercompreensão entre as línguas latinas, alicerçado em ações e iniciativas conjuntas;
3. Apoiam a convergência de iniciativas e esforços internacionais para um acesso alargado e equitativo ao conhecimento e ao ensino de qualidade, em especial do ensino plurilingue, desde as idades mais precoces;
4. Incentivam o estabelecimento de parcerias estratégicas para o apoio a programas de instituições de ensino superior para a formação e investigação de âmbito linguístico, literário, cultural e sociopolítico referente aos TEL;
5. Manifestam o empenho em dinamizar iniciativas conjuntas de divulgação cultural e científica, de âmbito regional e internacional, para a maior visibilidade e projeção internacional dos TEL;
6. Recomendam o desenvolvimento de projetos para a aprendizagem não formal das línguas e a educação intercultural, através do apoio a atividades de intercâmbio de jovens dos TEL;
7. Realçam o dever das instituições internacionais em promover estratégias concertadas para a redução das assimetrias globais, o desenvolvimento sustentável e a participação democrática na arena internacional;
8. Desejam continuar a promover reflexão política sobre temas relacionados com a agenda global, através da realização conjunta de um evento anual de alto nível.
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