RILP – III Série, nº27 (2014)

APRESENTAÇÃO

O mar representa 70% da superfície terrestre. É um recurso hídrico, uma fonte de energia renovável e de biodiversidade marinha, com particularidades geográficas únicas que tornam o mar um tema relevante, complexo e com múltiplos focos de abordagem.

Sendo o mar um elemento comum a todos os países de língua oficial portuguesa e Macau, a AULP reúne nesta edição artigos que permitem conhecer as várias perspetivas sobre o mar que tem um papel fundamental para a difusão da língua portuguesa.

De Angola, o contributo de Carmen Van-Dúnem Santos do departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, versa sobre a linha costeira de Angola, caracterizada por grandes extensões de praias arenosas, interrompidas por praias rochosas e/ou falésias, baías e lagunas, que aliadas às condições climáticas é relevante para a estratégia política e económica do país e dos objetivos de desenvolvimento sustentável no contexto nacional, regional e internacional.

Eduardo Juan Soriano-Sierra, coordenador do Grupo de Pesquisa do Núcleo de Estudos do Mar – NEMAR da Universidade Federal de Santa Catarina, realiza um estudo sobre as pequenas ilhas do arquipélago de Santa Catarina, Brasil, tanto em localização, como dimensão, uso, ocupação e existência de património arqueológico e histórico.

De Cabo Verde, os investigadores Evandro Lopes, Rui Freitas e Osvaldina Silva debruçaram-se sobre os corais em Cabo Verde. Um património a proteger e mostram que devido a condições oceanológicas, o arquipélago de Cabo Verde não possui verdadeiros recifes mas sim comunidades coralinas, em enseadas e baías abrigadas. Estes locais têm sustentado a produtividade piscívora no litoral do arquipélago e apresentam um elevado índice de diversidade biológica, sendo possível listar as espécies mais representativas.

As paisagens, pescas e pescadores no litoral da Guiné-Bissau, escrito por Raul Mendes Fernandes, investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa – INEP, em Bissau, desde 1986, analisa a colonialidade presente nas novas relações de poder na pesca. Este artigo alerta para o facto de a divisão das fronteiras marinhas e a industrialização da pesca aumentarem de forma exponencial a exploração dos ecossistemas marinhos, colocando em risco a sobrevivência das pessoas.

Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau desde 1999, presta uma homenagem à Marinha Portuguesa. O seu artigo sobre os “navios e marinheiros da Armada Portuguesa em Macau no séc. XX”, recorda o apoio dado às populações, em funções técnicas, didáticas e humanitárias, até ao desempenho de elevados cargos políticos.

Do norte de Moçambique, considerada a segunda região do planeta com maior diversidade de recifes, contamos com o contributo da Universidade Lúrio. Isabel Marques da Silva trata a biodiversidade marinha no contexto da exploração do gás natural, artigo que alerta para o recente crescimento económico da província de Cabo Delgado, em virtude da descoberta de gás natural, que impõe novos desafios para a biodiversidade destes habitats.

Remando ao arquipélago dos Açores, Portugal, Maria Inês Gameiro, investigadora do ISCTE-IUL, reflete sobre as tensões que se desenham em torno do património comum da humanidade e das plataformas continentais, da difusa fronteira entre investigação científica e bioprospecção comercial e do papel da proteção ambiental.

De São Tomé e Príncipe, a investigação da engenheira sanitarista e ambiental, Dudene Vaz Lima, escreve sobre a comunidade marítima de São Tomé e Príncipe e o tratamento domiciliar da água, realçando os problemas no saneamento básico que contribuem para uma água contaminada, avaliando ainda o conhecimento da população face aos problemas que podem advir da contaminação dos recursos hídricos.

Por último, Francisco Pereira Coutinho contribui para esta edição com um artigo que mostra como o intricado enquadramento convencional que regula a plataforma continental do mar de Timor, que é reconhecidamente rica em petróleo, é o resultado de uma combinação complexa de fatores económicos, históricos, jurídicos e políticos.

O presente número, ao contrário das edições anteriores da Revista Internacional em Língua Portuguesa (RILP), não dispôs de uma coordenação científica, entregue à Universidade de Cabo Verde e Universidade Eduardo Mondlane, pelo que foi o resultado dos esforços da equipa da sede que contactou investigadores dos diversos países de língua portuguesa a participarem nesta mostra de visões sobre o mar que, como a língua, separa e une.

Agradecemos a colaboração de todos os autores desta revista que, não obstante os prazos diminutos, fizeram um esforço para tornar este número viável. Os nossos agradecimentos às instituições de ensino superior membros da AULP e a todos os que colaboraram na identificação dos investigadores aqui presentes.

Desejamos uma boa leitura.

Rui Martins

Cristina Montalvão Sarmento

Pandora Guimarães

 

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