Prémio Fernão Mendes Pinto (Edição 2019)

 

VENCEDOR

A vencedora do PFMP 2019 foi Tânia dos Reis Alves da Universidade de Lisboa, com a dissertação de doutoramento 1961 – Sob o viés da imprensa. Os jornais portugueses, britânicos e franceses na conjuntura da eclosão da guerra no império português.

Recebi o prémio Fernão Mendes Pinto como uma forma de reconhecimento da minha tese de doutoramento, embora julgue que vencer um prémio não é o principal critério de aferição da qualidade de um trabalho. Depois de cerca de cinco anos dedicada à investigação e à escrita desse meu trabalho intitulado “1961 – Sob o viés da imprensa. Os jornais portugueses, britânicos e franceses na conjuntura da eclosão da guerra no império português”, foi com gratidão que recebi tal reconhecimento.

Todavia, é para mim, sobretudo, relevante constatar a atribuição desta distinção a um trabalho que considera o ano de 1961 como, em grande medida, a origem da revolução democrática de 1974. 1961, é certo, não foi desprendido de outros tempos, e vale a pena lembrar que nesses outros tempos havia já quem recusasse e condenasse a indignidade humana da escravatura e a iniquidade da dominação colonial. A minha tese diz respeito à história de um império, no qual irrompe uma guerra que o vai destruir – acredito que esta seja a história partilhada por todos os impérios. E, em 1961, Salazar moveu uma guerra – sem pronunciar esta palavra – ignorando os “ventos de mudança” e o clima da opinião internacional no pós-segunda guerra mundial. Fê-lo usando uma série de mentiras, de processos insidiosos de manipulação ideológica e cultural que dão mostra de um regime completamente desfasado de uma série de valores fundamentais – ligados à dignidade dos povos, ao valor da verdade e da liberdade. Penso que a atribuição deste prémio a um trabalho como aquele que eu desenvolvi é um sinal do valor cívico, além do valor académico, historiográfico, sociológico, conceptual e empírico desta investigação, e também do lugar cada vez mais saliente que os media e o jornalismo devem ter nos estudos da Sociologia e da História. As ciências sociais não podem ignorar a importância dos media como instituições que têm uma ação de grande relevo na construção dos quadros culturais e políticos da sociedade e da própria organização dos seus debates e conflitos. 

Manifestei desde logo, e reitero aqui, o meu agradecimento à Associação das Universidades de Língua Portuguesa e aos membros do júri a leitura da minha tese e a atribuição deste prémio. Reafirmo as minhas palavras de agradecimento ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que me acolheu e me deu as condições para desenvolver o meu estudo, à Fundação para a Ciência e Tecnologia por me ter concedido uma bolsa de investigação, e ao meu orientador, o Prof. José Luís Garcia, pela inspiração constante e a dedicação a este trabalho.

Além do elemento simbólico, há, evidentemente, o aspeto financeiro deste prémio, igualmente muito importante; ambos são um inegável estímulo para a continuação do trabalho que tenho vindo a desenvolver, sempre muito atento e a dar valor ao poder dos jornais em termos de agendamento, da configuração dos acontecimentos mediáticos, dos jogos de linguagem. A tese que foi premiada deu origem a um livro, que está prestes a sair, e que – espero – venha a cativar a atenção e a estimular a leitura de todos os que trabalham ou têm interesse nas temáticas do colonialismo e dos impérios coloniais modernos, da propaganda, da censura, da imprensa, e dos acontecimentos que precipitaram o início do fim do império português em África e a queda do chamado Estado Português da Índia. Uma última ideia: com o meu estudo, no mundo que estamos a viver hoje, gostaria de ter contribuído um pouquinho que fosse para que se perceba quão lunáticos são e quanta desgraça produzem os imperadores e candidatos a imperadores.