A mobilidade internacional e a juventude

Fonte: AULP, 2014-02-04

Viajar e procurar novos horizontes é a definição de um estilo de vida e de uma necessidade do ser humano. Há cada vez mais informação a percorrer o globo numa questão de minutos, assim como uma disseminação de vivências que deixam de ser meramente locais para terem impactos globais.

Com base nesse pressuposto, não é surpreendente que se evidencie a importância da mobilidade para a construção e desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens. Ainda que estes foquem os processos de mobilidade essencialmente para a empregabilidade e para a formação académica (onde se destaca o Programa Erasmus/ Erasmus Mundus), existe uma panóplia de experiências de aprendizagem internacional ainda pouco conhecida que permite reforçar paralelemente à educação formal a sua capacitação pessoal (onde se destaca a capacidade de arriscar, os processos de autoconhecimento ou a aprendizagem de uma nova língua e cultura).

Projetos mais estruturados como os intercâmbios e os cursos internacionais, os programas de voluntariado internacional (onde podemos destacar o Serviço Voluntário Europeu) e os workcamps são apenas alguns exemplos de processos de mobilidade que não incluem somente o conceito de viajar, e que proporcionam experiências únicas aos jovens. Nessa lógica é possível descobrir ofertas ainda mais variadas, destacando-se a título de exemplo as experiências de Gap Year solidários e os projetos de Woofing. Por outro lado, até a forma de viajar pode ser diferente e provocar um maior contacto com as comunidades locais, o que em parte explica o crescente sucesso das iniciativas de Couchsurfing.

Todas estas experiências são promotoras de mudança e transformação pessoal, reforçando o desenvolvimento de capacidades sociais e culturais que apenas o contacto com outras culturas e línguas pode criar, numa lógica de valorização das sociedades multiculturais. Destes processos saem então jovens capacitados enquanto indivíduos independentes e melhor adaptados a diferentes contextos. É ainda de realçar que qualquer um destes cenários estimula a aprendizagem pelo contacto com novas pessoas e culturas, valorizando a perpetuação de uma cidadania ativa e responsável.

Naturalmente, nem sempre os processos de adaptação são fáceis, especialmente quando a nova realidade onde os jovens se inserem é muito diferente daquela que conhecem, e as diferenças culturais podem ser promotoras de barreiras difíceis de transpor. A adaptação sai facilitada quando se criam laços com a comunidade local e desenvolvem amizades, já que é estabelecida uma ponte para o “mundo exterior”. Essa é também uma ótima defesa que ajuda a diminuir as saudades de casa e do ambiente de conforto habitual, o que permite criar espaço para absorver as vantagens da experiência de forma mais imediata.

Ao nível da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), a existência de programas e projetos oficiais de mobilidade juvenil entre países-membro e a restante Europa pode estimular o aparecimento de novos fluxos mais individualizados, tornando os países mais atrativos aos olhos de um jovem à procura de oportunidades. São reforçados laços de amizade entre os países envolvidos e promove-se uma partilha cultural que tendo uma base por vezes comum, é única e merece ser valorizada (até porque é geradora de interações que podem ser atrativas para jovens que procurem uma realidade diferente, mas que não seja necessariamente oposta à sua). A língua, comum a todos, sai também enriquecida pela exploração dos dialectos locais em si originados, o que permite compreender em parte a herança história que interliga estas nações.

Por esse motivo, e ainda que a procura por projetos a ocorrerem na CPLP possa não ter uma dimensão tão grande quanto a desejada quando comparada por exemplo com a Europa (o que por sua vez também resulta de uma oferta de menor dimensão), o reforço das relações entre organizações políticas, organizações não governamentais, assim como juvenis, sociais e culturais em cada país pode estar na origem do aparecimento de um novo fluxo de mobilidade. E é certamente através da construção de uma rede complexa de oportunidades e da sua disseminação eficaz junto do público-alvo que se podem promover futuros ambientes de cooperação frutíferos.