Instrumentos Musicais de Angola: sua Construção e Descrição

Prefácio

A Associação das Universidades de Língua Portuguesa, criada em 1986, assumiu a tarefa, desde 2007, de promover edições comemorativas nos seus Encontros anuais. A disseminação dos seus membros por vários continentes tem permitido, ao longo da última década, a edição fac-similada de obras que, por vários motivos, as Universidades de acolhimento dos Encontros consideram significativas para o enriquecimento do debate científico. Desde modo, edições fac-similadas de obras inacessíveis, ou livros científicos de reconhecido valor já desaparecidos ou ainda, cuja oportunidade se faz sentir, são distribuídas gratuitamente por todos os membros.

De Angola ao Brasil, de Cabo Verde a Portugal e passando por Macau e Timor-Leste, estas edições a que se reconhece o contributo e riqueza cultural ampliam o panorama literário e científico nos países onde se fala a língua portuguesa. Escolhidos na sua maioria pelas instituições de acolhimento, a AULP serve, assim, os interesses da comunidade científica.

O XXVIII Encontro da AULP realiza-se, neste ano de 2018, no Sul de Angola, na cidade do Lubango, acolhido pela Universidade Mandume Ya Ndemufayo, apoiada pelas suas congéneres angolanas. Na sequência da reedição do livro Etnias e Culturas de Angola, obra magistral de José Redinha, cuja edição fac-similada a AULP promoveu por ocasião da realização do XIX Encontro da AULP em Luanda no ano de 2009, surge agora a oportunidade de ampliar o conhecimento da inquirição do distinto investigador da cultura angolana.

O trabalho de catalogação e inventariação realizado nesta obra é um dos muitos que o investigador produziu enquanto pesquisador incansável da cultura angolana. Organizou acervos etnográficos e coordenou ações de implantação de espaços-museu para o abrigo dos acervos recolhidos. Tendo sido diretor do Museu de Angola, foi também membro do Instituto de Investigação Científica de Angola, e ao longo da sua carreira publicou inúmeros artigos e realizou várias conferências, sempre tendo Angola e o lugar deste país na História das Civilizações, como tema principal.

A edição fac-similada de Instrumentos Musicais de Angola, sua construção e descrição representa o esforço sistemático de classificação dos instrumentos musicais angolanos, enquadrados no ambiente cultural e humano que os envolve e em que eles ativamente participam. Enquadramento sem o qual, a transcendência que acompanha a vida desses instrumentos, ficaria incompleta, bem como o carácter pluridimensional que a música africana apresenta no seio das comunidades que a cultivam. Como o autor afirma: “A música, como recreação, ludismo, rito, magismo, comunicação, mágico-medicina e agente psico-social da variada acção, participa na maior intimidade da alma dos africanos” (…).

O texto, escrito no início dos anos 70 do séc. XX, inventaria mais de duas centenas de instrumentos e foi instruído com fotografias e, principalmente, com uma centena de desenhos, incluindo alguns gráficos relativos à distribuição dos instrumentos, porquanto os registos correspondem a toda a área de Angola.

Neste sentido, a recuperação do património histórico e cultural, implica a reintegração do inventário das formas culturais e civilizacionais, utilizadas nos diversos espaços que compõem o universo onde se fala o português. No caso em apreço, Angola, a Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), ao realizar a edição fac-similada deste livro, reafirma o seu compromisso em prestar homenagem a todos aqueles que, no passado, dedicaram a sua investigação à riqueza da diversidade dos usos, formas e ritos das diversas culturas associadas à língua portuguesa.

No momento em que se alcança a ancoragem histórica do património comum do espaço lusófono, seja natural e científico, seja linguístico e cultural, seja histórico e artístico, este livro, transporta-nos para uma realidade em que (…) “A África aparece-nos definida como uma conjugação íntima de cor, luz e ritmo, e a música, como factor da sua grande síntese, é elemento motor participante no elan destas sociedades”.

Esta reedição contou com importantes apoios. São de justiça os agradecimentos    aos herdeiros de José Redinha que a autorizaram e ao Professor Doutor João Gabriel e Silva, que, na qualidade de Reitor da Universidade de Coimbra, junto dos seus pares, logrou obter a autorização do Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra, da edição de 1984, que era já uma homenagem ao insigne estudioso das culturas angolanas e aqui se reproduz. Ainda os agradecimentos aos membros da sede da AULP compreendendo o ato de cultura que lhe está associado, apoiaram esta reedição.

Orlando M. J. F. da Mata e Cristina Montalvão Sarmento

 

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