A internacionalização do cinema português
Está a decorrer atualmente o ciclo de cinema Harvard na Gulbenkian – diálogos sobre o cinema português e o cinema do mundo. A próxima sessão será já dia 14 de fevereiro com o filme “Xavier”, dando assim início ao fim-de-semana cuja temática é “cinema num tom menor”. O gabinete de comunicação da AULP falou com o coordenador deste projeto, António Caldeira Pires, para perceber melhor esta iniciativa.
Este ciclo de cinema consiste num programa de 12 fins-de-semana, em que se dá destaque a um cineasta português. Com a participação de colegas estrangeiros, o objetivo é promover o debate sobre as semelhanças entre o filme português e outros filmes internacionais. Relativamente à primeira sessão do ciclo, António Caldeira Pires afirma que “está a pôr-se o cinema de António Reis num contexto internacional, com os seus pares internacionais”.
António Caldeira Pires refere ainda a importância histórico-cultural de algumas destas peças. “Há uma preocupação museológica neste ciclo, que é apresentar os filmes no seu suporte original”. Esta preocupação fez com que já viessem para a Gulbenkian as cópias dos filmes em 16mm, sendo que atualmente a maioria dos filmes são no formato digital. Dada a complexidade do equipamento a Gulbenkian sentiu a necessidade de chamar uma projecionista do Canadá.
“É muito acessível. Para estudantes é €3,5, o equivalente a duas cervejas”, brinca António Caldeira Pires. Mas para quem não é estudante, pode assistir a este ciclo por um valor inferior ao de um bilhete normal de cinema, ou seja, por €5.
Um olhar sobre a história do cinema…
Foi a 28 de dezembro de 1895 que se deu a primeira sessão de cinema. Teve lugar no Grand Café de Paris, onde foi inaugurado o Cinématographe Lumiére. Tratava-se de um único plano de um comboio a entrar na estação o que criou o pânico dos espetadores e fez com que estes fugissem para a saída (“L’Entrée du train en gare de la Ciotat“).
Só em 1948 é que chega a televisão e são vendidos 14 mil aparelhos. Em 1949 venderam-se 172 mil, e 32 milhões em 1955. Com esta mudança de hábitos de lazer, começou o fim da era dos estúdios.
O facto de começarem a existir emissões regulares de televisão a partir de 1957 faz com que a televisão se torne o meio ideal para transmissão da ideologia do Estado – uma das razões para a crise do cinema português antes da década de 60 (em 1955, não houve uma única longa metragem portuguesa produzida, sendo este o chamado ano zero do cinema português).
Apesar disso, em 1959 e 1960 foram criadas duas entidades que ajudaram a divulgação e criação de filmes, a Cinemateca e o Fundo do Cinema. São passados filmes, nomeadamente, da nouvelle vague portuguesa.
A partir deste período, as novas preocupações dos filmes são o realismo, a ilustração da condição do Homem mas distanciando-se da perspectiva classicista, pela condição do povo. Há uma ruptura de género e de estilo. Jovens cineastas, com educação na área, juntam-se a este novo movimento vanguardista de cinema.
O 25 de abril de 1974 deu um fôlego a esta onda de cinema, nomeadamente em relação a documentários e filmes de ficção que abordam o tema – é o chamado cinema militante dos anos 70. Em relação à nouvelle vague, este cinema tem semelhanças a nível de técnicas de cinema, mas o protagonista passa a ser outro – é a classe social.